Municípios de Canoinhas e Três Barras vão elaborar os projetos necessários, contando com o apoio técnico da Defesa Civil do Estado
A prefeita de Canoinhas, Juliana Maciel, e de Três Barras, Ana Claudia Quege, receberam nesta quinta-feira, 21, o secretário de Estado da Defesa Civil de Santa Catarina, Mário Hildebrandt, para tratar de um tema que é prioridade para a região: a limpeza do rio Canoinhas. A reunião foi realizada no gabinete da prefeitura de Canoinhas.
“O objetivo é unir esforços. Ao lado de Três Barras e o Governo do Estado iniciamos um trabalho em conjunto para buscar soluções para o rio Canoinhas”, destacou a prefeita canoinhense, Juliana.
De acordo com os técnicos da Prefeitura de Canoinhas, a limpeza do rio, aliada a outras ações já em andamento, é fundamental para reduzir os impactos causados pelas enchentes e dar mais segurança à população.
Os Municípios de Canoinhas e Três Barras vão elaborar os projetos necessários, contando com o apoio técnico da Defesa Civil do Estado. O secretário Mário Hildebrandt garantiu que toda a documentação será analisada para buscar viabilizar os recursos necessários à execução dos trabalhos.
“Todo esse esforço é para diminuir os impactos da enchente. No fim das contas, o que realmente importa para nós é proteger vidas”, afirmou a vice-prefeita Zenilda Lemos, que também acompanhou o encontro.
Participaram ainda da reunião representantes da Defesa Civil estadual, regional e municipal, além dos secretários de Meio Ambiente e de Planejamento de Canoinhas.
Relembre as três maiores enchentes dos últimos 50 anos em Canoinhas e Três Barras:

1983 / 2014 / 2023 – Fotos: Arquivo/Fátima Santos/Ferpa Filmes/Divulgação
A ENCHENTE DE 2023
Os meses de outubro e novembro trouxeram preocupação e tristeza para centenas de famílias, que tiveram que sair de suas casas em toda a região do Planalto Norte. Todas as dez cidades da região decretaram situação de emergência em razão das chuvas intensas que assolaram Santa Catarina. Em Canoinhas e Três Barras, mais de 6 mil pessoas ficaram desalojadas. O rio Canoinhas chegou a 8,8 metros.
A enchente que durou quase 40 dias, atingiu um total de 2.900 edificações em Três Barras, mais de 40% do município. 4.352 tresbarrenses ficaram desalojados e 1.371 pessoas foram acolhidas em abrigos públicos. O distrito de São Cristóvão foi o local mais afetado do município, com as águas atingindo 2.295 edificações, sendo mais de 70% de sua área tomada pelas águas. Além da cheia do rio Canoinhas, Três Barras também sofreu com as cheias do rio Negro e do rio Barra Grande.
Em Canoinhas, mais de 600 famílias tiveram que sair de casa: cerca de 1600 pessoas. No ápice da enchente, 109 pessoas foram abrigadas pelo Município.
Os índices do rio Canoinhas no dia 13 de outubro deste ano ultrapassaram os 8,8 metros, o que fez com que a enchente deste ano superasse a de 2014 quando o nível do rio Canoinhas chegou a 7,99 metros, se tornando, portanto, se levarmos em consideração o nível do rio, a segunda pior enchente em 40 anos, perdendo apenas para a grande enchente de 1983, quando o Canoinhas chegou a 10,2 metros.
Com as chuvas intensas e inundações, estradas do interior ficaram inacessíveis, acessos foram prejudicados, comunidades ficaram isoladas e ruas do centro de Canoinhas e do Campo d’Água Verde tiveram de ser interditadas. Um levantamento realizado pela Epagri, apontava um prejuízo de R$ 63 milhões na agricultura somente nos 10 primeiros dias de outubro. Mas o número foi muito maior.
Duas pessoas morreram na região, em decorrência da enchente. Em Três Barras, Vilmar Xavier, de 41 anos, morreu no dia 15 de outubro, vítima de um choque elétrico em uma área alagada no bairro Argentina, em Três Barras. No dia 19 de outubro, um rapaz de 28 anos morreu no Hospital Santa Cruz de Canoinhas, por causa de uma infecção causada por hantavirose, doença transmitida por roedores.
No dia 16 de novembro, as últimas famílias voltaram para casa e os abrigos públicos abertos devido à enchente foram oficialmente fechados em Canoinhas. Em Três Barras, no dia 22 de novembro, após quase todas as famílias retornarem para casa, o Município retomou o programa Reconstrói Três Barras, que focou na recuperação da cidade e do interior.
A ENCHENTE DE 2014
Os meses de junho e julho de 2014 foram de preocupação e tristeza para centenas de famílias da região. Uma enchente, resultado de três dias de chuva intensa, alagou mais de 40% de Três Barras e atingiu 15 mil pessoas. Já em Canoinhas, mais de 2.200 pessoas foram afetadas pela cheia.
O rio Canoinhas, que passa pelos dois municípios, chegou à marca de 7,99 metros no dia 13 de junho. Esta foi a maior cheia em 30 anos na história da região, apenas perdendo para a grande enchente de 1983. Porém, em número de atingidos, superou. Em 1992, quando o desastre também foi grande, de acordo com o arquivo do jornal Correio do Norte, o nível máximo registrado foi de 7,62 metros.
Relembre a enchente de 2014 na região em vídeo feito pela Ferpa Filmes e fotos:
ENCHENTE 1983
A histórica enchente de 1983, afetou não só a região, mas o Estado de Santa Catarina de maneira mais ampla. À época, os danos causados pelas condições climáticas foram tidos como partes de um grande colapso que afetou Canoinhas em diversos âmbitos, incluindo o fato de que muitas famílias de áreas do interior do município ficaram até mesmo sem alimentação, por conta da dificuldade de acesso às localidades interioranas pelo período de quase um mês.
Registros do jornal Correio do Norte apontam que o nível do rio Canoinhas já tinha 7 metros acima do normal em maio de 1983. No texto que abre a edição do Correio do Norte de 14 de maio de 1983, com a manchete “Chuvas contínuas infernizam a vida da população”, há a informação de que o prefeito José João Klempous já teria autorizado a remoção de algumas famílias de áreas de risco, especialmente no bairro Campo d’Água Verde (hoje distrito), para que fossem realocadas em outras áreas.
“No interior do município a situação é ainda mais calamitosa, já que os agricultores estão impossibilitados de trabalhar nas lavouras, que estão em algumas regiões totalmente inundadas, e outras vezes, por causa do verdadeiro caos existente nas estradas, que não dão condições de tráfego”, diz o texto do Correio do Norte, em 14 de maio de 1983.
Duas edições depois, no 28 de maio de 1983, o jornal Correio do Norte traz o dado de que as fortes chuvas já haviam desabrigado ao menos 500 pessoas em Canoinhas e Três Barras, sendo que 300 delas estavam em abrigos cedidos pelas prefeituras. Os números também apontam para 170 casas inundadas e o texto aborda uma campanha de arrecadação, iniciada pela Defesa Civil e pela própria Prefeitura de Canoinhas, para auxiliar as famílias desalojadas com alimentos, roupas, remédios e cobertores.
Em relação à produção agrícola, a edição do jornal informa ainda sobre um telex enviado pelo presidente da Associação Comercial e Industrial de Canoinhas, à época Miguel Procopiak, enviado ao governador do Estado, comunicando sobre a “precária situação do município face as intensas chuvas”. O texto de Procopiak cita ainda que os acontecimentos climáticos da ocasião foram “criando no agricultor uma expectativa de desânimo”.
Na edição de 18 de junho de 1983 do Correio do Norte, mais de um mês após os primeiros registros de estragos decorrentes das chuvas que assolavam a região, a notícia era de que o então governador do Estado, Espiridião Amin, havia entregue diversos cheques no valor de 20 milhões e 500 mil cruzeiros a prefeituras de cidades afetadas pelas condições climáticas.
Nesta mesma data, 50 das 500 pessoas noticiadas como desalojadas em edições anteriores, permaneciam no abrigo municipal organizado no salão de festas da Igreja Perpétuo Socorro.
Ao final do mês de agosto de 1983, ainda havia, no jornal Correio Norte, notícias ou menções a fortes chuvas, enchentes ou mesmo relatos de auxílio a famílias atingidas pelas condições climáticas que tiveram início em maio daquele mesmo ano.
Fonte: JMais